TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade.
O
que é o TDAH?
O Transtorno do Déficit de
Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas
genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por
toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e
impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção).
Em inglês, também é chamado de ADD, ADHD ou de AD/HD.
Existe mesmo o TDAH?
Ele é reconhecido oficialmente
por vários países e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em alguns países,
como nos Estados Unidos, portadores de TDAH são protegidos pela lei quanto a
receberem tratamento diferenciado na escola.
Não existe controvérsia sobre a existência do TDAH?
Não, nenhuma. Existe inclusive um Consenso Internacional publicado pelos mais
renomados médicos e psicólogos de todo o mundo a este respeito. Consenso é uma
publicação científica realizada após extensos debates entre pesquisadores de
todo o mundo, incluindo aqueles que não pertencem a um mesmo grupo ou
instituição e não compartilham necessariamente as mesmas ideias sobre todos os
aspectos de um transtorno.
Por que algumas pessoas insistem que o TDAH não existe?
Pelas mais variadas razões, desde inocência e falta de formação científica até
mesmo má-fé. Alguns chegam a afirmar que “o TDAH não existe”, é uma “invenção”
médica ou da indústria farmacêutica, para terem lucros com o tratamento.
No primeiro caso se
incluem todos aqueles profissionais que nunca publicaram qualquer pesquisa
demonstrando o que eles afirmam categoricamente e não fazem parte de nenhum
grupo científico. Quando questionados, falam em “experiência pessoal” ou então
relatam casos que somente eles conhecem porque nunca foram publicados em
revistas especializadas. Muitos escrevem livros ou têm sites na Internet, mas
nunca apresentaram seus “resultados” em congressos ou publicaram em revistas
científicas, para que os demais possam julgar a veracidade do que dizem.
Os segundos são aqueles
que pretendem “vender” alguma forma de tratamento diferente daquilo que é
atualmente preconizado, alegando que somente eles podem tratar de modo correto.
Tanto os primeiros quanto
os segundos afirmam que o tratamento do TDAH com medicamentos causa
consequências terríveis. Quando a literatura científica é pesquisada, nada
daquilo que eles afirmam é encontrado em qualquer pesquisa em qualquer país do
mundo. Esta é a principal característica destes indivíduos: apesar de terem uma
“aparência” de cientistas ou pesquisadores, jamais publicaram nada que
comprovasse o que dizem.
Veja um texto a este
respeito e a resposta dos Professores Luis Rohde e Paulo Mattos:
O TDAH é comum?
Ele é o transtorno mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para
serviços especializados. Ele ocorre em 3 a 5% das crianças, em várias regiões
diferentes do mundo em que já foi pesquisado. Em mais da metade dos casos o
transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas de
inquietude sejam mais brandos.
Quais são os sintomas de TDAH?
O TDAH se caracteriza por uma combinação de dois tipos de sintomas:
1)
Desatenção
2)
Hiperatividade-impulsividade
O TDAH na infância em geral se associa a dificuldades na escola e no
relacionamento com demais crianças, pais e professores. As crianças são tidas
como "avoadas", "vivendo no mundo da lua" e geralmente
"estabanadas" e com "bicho carpinteiro" ou “ligados por um
motor” (isto é, não param quietas por muito tempo). Os meninos tendem a ter
mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que as meninas, mas todos são
desatentos. Crianças e adolescentes com TDAH podem apresentar mais problemas de
comportamento, como por exemplo, dificuldades com regras e limites.
Em adultos, ocorrem
problemas de desatenção para coisas do cotidiano e do trabalho, bem como com a
memória (são muito esquecidos). São inquietos (parece que só relaxam dormindo),
vivem mudando de uma coisa para outra e também são impulsivos ("colocam os
carros na frente dos bois"). Eles têm dificuldade em avaliar seu próprio
comportamento e quanto isto afeta os demais à sua volta. São frequentemente
considerados “egoístas”. Eles têm uma grande frequência de outros problemas
associados, tais como o uso de drogas e álcool, ansiedade e depressão.
Quais são as causas do TDAH?
Já existem inúmeros estudos em todo o mundo - inclusive no Brasil -
demonstrando que a prevalência do TDAH é semelhante em diferentes regiões, o
que indica que o transtorno não é secundário a fatores culturais (as práticas
de determinada sociedade, etc.), o modo como os pais educam os filhos ou
resultado de conflitos psicológicos.
Estudos científicos
mostram que portadores de TDAH têm alterações na região frontal e as suas conexões
com o resto do cérebro. A região frontal orbital é uma das mais desenvolvidas
no ser humano em comparação com outras espécies animais e é responsável pela
inibição do comportamento (isto é, controlar ou inibir comportamentos
inadequados), pela capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole,
organização e planejamento.
O que parece estar
alterado nesta região cerebral é o funcionamento de um sistema de substâncias
químicas chamadas neurotransmissores (principalmente dopamina e noradrenalina),
que passam informação entre as células nervosas (neurônios).
Existem causas que foram investigadas para estas alterações nos
neurotransmissores da região frontal e suas conexões.
A) Hereditariedade:
Os genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma
predisposição ao TDAH. A participação de genes foi suspeitada, inicialmente, a
partir de observações de que nas famílias de portadores de TDAH a presença de
parentes também afetados com TDAH era mais freqüente do que nas famílias que
não tinham crianças com TDAH. A prevalência da doença entre os parentes das
crianças afetadas é cerca de 2 a 10 vezes mais do que na população em geral
(isto é chamado de recorrência familial).
Porém, como em qualquer
transtorno do comportamento, a maior ocorrência dentro da família pode ser
devido a influências ambientais, como se a criança aprendesse a se comportar de
um modo "desatento" ou "hiperativo" simplesmente por ver
seus pais se comportando desta maneira, o que excluiria o papel de genes. Foi
preciso, então, comprovar que a recorrência familial era de fato devida a uma
predisposição genética, e não somente ao ambiente. Outros tipos de estudos
genéticos foram fundamentais para se ter certeza da participação de genes: os
estudos com gêmeos e com adotados. Nos estudos com adotados comparam-se pais
biológicos e pais adotivos de crianças afetadas, verificando se há diferença na
presença do TDAH entre os dois grupos de pais. Eles mostraram que os pais
biológicos têm 3 vezes mais TDAH que os pais adotivos.
Os estudos com gêmeos
comparam gêmeos univitelinos e gêmeos fraternos (bivitelinos), quanto a
diferentes aspectos do TDAH (presença ou não, tipo, gravidade etc...).
Sabendo-se que os gêmeos univitelinos têm 100% de semelhança genética, ao
contrário dos fraternos (50% de semelhança genética), se os univitelinos se
parecem mais nos sintomas de TDAH do que os fraternos, a única explicação é a
participação de componentes genéticos (os pais são iguais, o ambiente é o
mesmo, a dieta, etc.). Quanto mais parecidos, ou seja, quanto mais concordam em
relação àquelas características, maior é a influência genética para a doença.
Realmente, os estudos de gêmeos com TDAH mostraram que os univitelinos são
muito mais parecidos (também se diz "concordantes") do que os fraternos,
chegando a ter 70% de concordância, o que evidencia uma importante participação
de genes na origem do TDAH.
A partir dos dados destes
estudos, o próximo passo na pesquisa genética do TDAH foi começar a procurar
que genes poderiam ser estes. É importante salientar que no TDAH, como na
maioria dos transtornos do comportamento, em geral multifatoriais, nunca
devemos falar em determinação genética, mas sim em predisposição ou influência
genética. O que acontece nestes transtornos é que a predisposição genética envolve
vários genes, e não um único gene (como é a regra para várias de nossas
características físicas, também). Provavelmente não existe, ou não se acredita
que exista, um único "gene do TDAH". Além disto, genes podem ter
diferentes níveis de atividade, alguns podem estar agindo em alguns pacientes
de um modo diferente que em outros; eles interagem entre si, somando-se ainda
as influências ambientais. Também existe maior incidência de depressão,
transtorno bipolar (antigamente denominado Psicose Maníaco-Depressiva) e abuso
de álcool e drogas nos familiares de portadores de TDAH.
B) Substâncias ingeridas na gravidez:
Tem-se observado que a nicotina e o álcool quando ingeridos durante a gravidez
podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê, incluindo-se aí a
região frontal orbital. Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm mais chance
de terem filhos com problemas de hiperatividade e desatenção. É importante
lembrar que muitos destes estudos somente nos mostram uma associação entre
estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.
C) Sofrimento fetal:
Alguns estudos mostram que mulheres que tiveram problemas no parto que acabaram
causando sofrimento fetal tinham mais chance de terem filhos com TDAH. A
relação de causa não é clara. Talvez mães com TDAH sejam mais descuidadas e
assim possam estar mais predispostas a problemas na gravidez e no parto. Ou
seja, a carga genética que ela própria tem (e que passa ao filho) é que estaria
influenciando a maior presença de problemas no parto.
D) Exposição a chumbo:
Crianças pequenas que sofreram intoxicação por chumbo podem apresentar sintomas
semelhantes aos do TDAH. Entretanto, não há nenhuma necessidade de se realizar
qualquer exame de sangue para medir o chumbo numa criança com TDAH, já que isto
é raro e pode ser facilmente identificado pela história clínica.
E) Problemas Familiares:
Algumas teorias sugeriam que problemas familiares (alto grau de discórdia
conjugal, baixa instrução da mãe, famílias com apenas um dos pais,
funcionamento familiar caótico e famílias com nível socioeconômico mais baixo)
poderiam ser a causa do TDAH nas crianças. Estudos recentes têm refutado esta
idéia. As dificuldades familiares podem ser mais conseqüência do que causa do
TDAH (na criança e mesmo nos pais).
Problemas familiares podem
agravar um quadro de TDAH, mas não causá-lo.
F) Outras Causas
Outros fatores já foram aventados e posteriormente abandonados como causa de
TDAH:
1. corante amarelo
2. aspartame
3. luz artificial
4. deficiência hormonal (principalmente da tireóide)
5. deficiências vitamínicas na dieta.
Todas estas possíveis causas foram investigadas cientificamente e foram
desacreditadas.