Alfabetização: 6 práticas essenciais
Conheça as ações para fazer toda a turma avançar, as características das
atividades desafiadoras em cada um dos seis tópicos e os equívocos comuns
1-) Identificar o que cada
criança da turma já sabe
O que é:
Avaliar o nível de alfabetização e as
intervenções mais adequadas para cada aluno. Antes mesmo de entrar na escola,
as crianças já estão cercadas por textos, mas o contato com eles depende dos
hábitos de cada família. Assim, uma turma de 1º ano vai apresentar uma
variedade enorme de saberes, com estudantes pré-silábicos (quando as letras
usadas na escrita não têm relação com a fala), silábicos sem valor sonoro
(representando cada sílaba com uma letra aleatória), com valor sonoro (usando
uma das letras da sílaba para representá-la), silábico-alfabéticos (que
alternam a representação silábica com uma ou mais letras da sílaba) e,
finalmente, alfabéticos (que escrevem convencionalmente, apesar de eventuais
erros ortográficos).
Ações:
A atividade de diagnóstico mais comum é o ditado
de uma lista de palavras dentro de um mesmo campo semântico (por exemplo, uma
lista de frutas) com quantidade diferente de sílabas. Com base nela, é possível
elaborar um mapa dos saberes da turma e planejar ações (leia o
depoimento abaixo). Também vale usar os resultados das sondagens periódicas
para informar os pais sobre os avanços de seus filhos.
Mapa dos saberes é a base para formar
grupos
"Quando comecei a alfabetizar,
não utilizava os resultados dos diagnósticos em sala de aula. Hoje, o mapa da
classe funciona como um subsídio obrigatório para a organização de grupos de
alunos com saberes próximos. Uma criança pré-silábica precisa de uma ajuda
muito diferente de uma alfabética, por exemplo. Além disso, o diagnóstico me
ajuda a planejar atividades diferenciadas. Ao mesmo tempo em que trabalho
textos de memória com os que estão em hipóteses menos avançadas, promovo a
leitura com os que já sabem ler."
Elienai Sampaio Gonçalves de Brito é professora do 1º ano da EM Barboza Romeu, em Salvador, BA.
Elienai Sampaio Gonçalves de Brito é professora do 1º ano da EM Barboza Romeu, em Salvador, BA.
Os erros mais comuns:
- Não usar as informações da sondagem
no planejamento. Os dados do diagnóstico devem orientar as atividades, os
agrupamentos e as intervenções.
- Não planejar atividades diferentes para alunos alfabéticos e não
alfabéticos. Os que já dominam o sistema de escrita precisam continuar
aprendendo novos conteúdos, como ortografia e pontuação.
2-) Realizar atividades com foco no
sistema de escrita
O que é:
Criar momentos para que os alunos sejam convidados a pensar sobre as relações grafo fônicas e as peculiaridades da língua escrita. A intenção é fazer com que eles investiguem quais letras, quantas e onde usá-las para escrever. Alguns exemplos de perguntas para a turma: a palavra que você procura começa com que letra? Termina com qual? Quantas letras você acha que ela tem? É por meio de reflexões desse tipo que as crianças entendem a ligação entre os sons e as possíveis grafias. Algo muito distinto do que se fazia até pouco tempo atrás, quando vigorava a ideia de memorização. Os alunos primeiro repetiam inúmeras vezes as sílabas já formadas (ba, be, bi, bo, bu) e depois tentavam formar palavras e frases utilizando as sílabas que já haviam aprendido ("O burro corria para o correio", "Ivo viu a uva" e outras sem sentido algum). Só depois de guardar todas as possibilidades, a criança começava a escrever pequenos textos. O pior era que, em muitos casos, o momento da produção nunca chegava.
Ações:
Desafiar os alunos a ler e a escrever, por conta própria, textos de complexidade adequada ao seu estágio de alfabetização (leia o depoimento abaixo). No esforço de entender como funciona o sistema alfabético, as crianças vão inicialmente tentar ler com base no que conhecem sobre a escrita e onde ela aparece (cartazes, livros, jornais etc.), utilizando o contexto para identificar palavras ou partes delas. As questões que o professor faz para que a criança justifique o que está escrito e os conflitos cognitivos decorrentes dessas indagações e da interação com os colegas levam à revisão de suas hipóteses.
Listas para desafiar a turma
a escrever
"Tenho clareza de que as
crianças refletem sobre o sistema de escrita quando são desafiadas a ler e a
escrever. Meu foco são os que ainda não estão alfabéticos. Para eles, preparo
listas (de frutas, dos nomes da chamada etc.) e textos de memória (músicas,
adivinhas etc.). Procuro ainda respeitar o tempo de evolução de cada aluno. Não
dá para forçar que ele mude de hipótese só mostrando o que está errado. Esse é
um processo cognitivo que depende de cada um."
Angela Viera dos Santos é professora do 2º ano da EE Josefina Maria Barbosa, em São Paulo, SP.
Angela Viera dos Santos é professora do 2º ano da EE Josefina Maria Barbosa, em São Paulo, SP.
Os erros mais comuns:
- Deixar o aluno escrever sem
intervir nem fornecer informações. A criança só avança ao receber
ajudas desse tipo do professor.
- Pedir que os alunos copiem textos. Esse exercício mecânico pode, no máximo, ajudar a memorizar.
- Não desafiar os alunos a ler. Procurar nomes em listas, por exemplo, é essencial para entender a lógica do sistema de escrita.
- Pedir que os alunos copiem textos. Esse exercício mecânico pode, no máximo, ajudar a memorizar.
- Não desafiar os alunos a ler. Procurar nomes em listas, por exemplo, é essencial para entender a lógica do sistema de escrita.
3-) Realizar atividades com foco nas
práticas de linguagem
O que é:
Ajudar as crianças a entender como os textos se organizam e os aspectos
específicos da linguagem escrita. Mais que enumerar as características dos
diferentes gêneros, o importante é levar a turma a perceber as características
sociocomunicativas de cada um deles, mostrando que aspectos como o estilo e o
formato do material dependem da intenção do texto (por que se escreve) e de seu
destinatário (para quem se escreve). "Isso se faz com a produção e a
reflexão sobre bons exemplos", diz Neurilene Martins, coordenadora do
Instituto Chapada, em Salvador.
Ações:
As atividades mais consagradas são a leitura em voz alta e a produção de texto
com o professor como escriba. Nas situações de leitura, o docente atua como um
modelo de leitor: ele questiona as intenções do autor ao escolher expressões e
palavras, retoma passagens importantes e ajuda na construção do sentido. Já nas
ações de produção de texto oral com destino escrito (leia o depoimento
abaixo), ao propor que os estudantes ditem um texto, ele discute a
estrutura daquele gênero, escreve e revisa coletivamente, sugerindo alterações
para tornar a composição mais interessante.
Produzir textos antes mesmo de saber
escrever convencionalmente
"Em minha turma, todo dia leio
uma história de literatura infantil. Dessa forma, as crianças entram em contato
com a linguagem que se escreve - que, em vários casos, tem marcas distintas da
oral. Também atuo constantemente como escriba. Quando vou escrever um cartaz,
por exemplo, peço para os alunos me ajudarem com as ideias e que pensem na
melhor maneira de comunicar o que queremos. É utilizando a língua escrita em
contextos reais de comunicação que as crianças aprendem a ler e escrever de
forma autônoma".
Luciana Kornatzki é professora do 1º ano da Escola Desdobrada Jurerê, em Florianópolis, SC.
Luciana Kornatzki é professora do 1º ano da Escola Desdobrada Jurerê, em Florianópolis, SC.
Erros mais comuns
- Ler para a turma sem destacar as características da linguagem. Depois de uma primeira leitura completa, é fundamental mostrar as expressões que ajudam a construir a forma e o significado dos textos.
- Explorar apenas as características de cada gênero sem produzi-lo. Conhecer a estrutura não garante as condições para a produção. Aprende-se a ler lendo e a escrever escrevendo.
- Ler para a turma sem destacar as características da linguagem. Depois de uma primeira leitura completa, é fundamental mostrar as expressões que ajudam a construir a forma e o significado dos textos.
- Explorar apenas as características de cada gênero sem produzi-lo. Conhecer a estrutura não garante as condições para a produção. Aprende-se a ler lendo e a escrever escrevendo.
Fonte: Reportagem no site da Revista Nova Escola, no link abaixo:
No próximo post. continua a reportagem.
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